Costumo sempre escrever algo de minhas viagens e encontro com as pessoas, pois na vida influenciamos e ao mesmo tempo somos influenciados (de maneira consciente ou inconsciente). Eis a reflexão de nosso encontro pela noite:
“Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. É como um óleo suave derramado sobre a fronte, e que desce para a barba, a barba de Aarão, para correr em seguida até a orla de seu manto. É como o orvalho do Hermon, que desce pela colina de Sião; pois ali derrama o Senhor a vida e uma bênção eterna.” (Salmo 132).
A Sagrada Escritura utiliza vários símbolos para expressar diversos ensinamentos (Ap 1; Lc 15). Por exemplo, neste salmo, o óleo perfumado simboliza várias situações e atitudes, entre elas a hospitalidade, alegria, festa e também consagração sacerdotal e da realeza.
Pude contemplar o óleo que vocês derramaram sobre mim desde que cheguei em Porto Velho: hospitalidade no seminário e belo acolhimento (Hb 13); a alegria de vocês (um destaque fenomenal), pois "a alegria é o melhor exorcismo" (São Francisco de Assis). A busca da vocação de vocês em realizar o amor para o Reino através do sacerdócio ministerial: "vocação acertada para um futuro feliz".
Neste salmo, apresenta-se a consagração sacerdotal que se referia ao sacerdote Aarão, pai do sacerdócio bíblico. Além disso, o salmista mostra a sacralidade da fraternidade que é representada pela barba. Possam manter-se unidos, mesmo com as diferenças que isso é bem normal num grupo (Jo 17: Ut unum sint).
A barba no Oriente é concebida como vitalidade e potência; e as vestes são a dignidade (Salmo 8). Portanto, uma consagração que engloba todo o ser humano que deve contemplar as dimensões: biopsicossocial e espiritual. Hoje, a sociedade necessita muito desse olhar, para podermos tocar o ser humano como Jesus realizou.
Uma preocupação que eu tenho muito hoje é a doença social de que não consigo me socializar mais com os outros, principalmente com os meus em casa/clero/seminário, neste período crítico. A pandemia demonstrou ainda mais as dificuldades de uma interação com minha família, ou seja, de uma vivência superficial. É a tal chamada “Modernidade líquida”: uma crítica do sociólogo Baumen que mostra uma sociedade imediatista, leve, ou seja, sem muito compromisso (superficial). Com este tipo de filosofia de vida, os relacionamentos se tornam mais superficiais e acabam prejudicando o nosso desenvolvimento biopsicossocial e espiritual. Possamos aproveitar este momento e ir ao encontro dos nossos e pedir perdão e assim, voltarmos a valorizar a nossa família.
“Ohana quer dizer família e família quer dizer aquela que nunca nos esquece ou nos abandona” (Lilo & Stitch) ou o dom da graça de Deus em havaiano.
(Pe. Marcelo José. Atuação sacerdotal no tempo da pandemia: 01/04/21).
Possamos derramar o óleo, para aqueles que vierem ao nosso encontro: rico ou pobre, clero ou leigo, branco/negro/índio (aqui em Rondônia é bem expressivo isso)... Enfim, aos que o Senhor nos enviar.
Agradeço a Deus por cada um de vocês na sua vida e vocação. Meu muito obrigado por manifestar a graça e a bênção em minha vida também.
Cor unum et anima una
(um só coração e uma só alma).
Pe. Marcelo José M. Da Costa
Arquidiocese de Niterói
Seminaristas do menor em Porto Velho - Rondônia (2022).