quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Sem "soffrimento": um olhar na esperança do céu em Deus

Sem “soffrimento”: a vida eterna nos gera esperança no coração 

Interessante como um simples erro de digitação pode nos levar a reflexões mais profundas e simbólicas (eu aproveito cada situação para refletir).

A ideia de "soffrimento" faz uma conexão linguística criativa e que ainda, faz ressoar com a promessa de Cristo: uma eternidade sem dor e sem sofrimento, para os que crêem nEle. Isso mostra como a linguagem e a fé podem se entrelaçar de maneiras inesperadas para nos oferecer conforto e esperança. 

A vida nos proporciona diversas experiências: ruins e boas, sendo que em sua  maioria são boas.   Sabemos que há sofrimentos, angústias, dores,...  Porém, na eternidade isso não acontece, pois o Senhor Jesus nos prometeu em sua eternidade que não vai ter mais sofrimento ou dor e até a morte.  Sem querer escrevi sofrimento com dois “ff” e com isso, deu a ideia de “off” que vem do inglês fora, desligado, ou seja: sem sofrimento. 

“No mundo tereis aflições,mas coragem eu venci o mundo” (Jesus).

Essas reflexões podem ser um lembrete poderoso de que, mesmo nas dificuldades, há sempre a promessa de algo melhor e mais tranquilo, como mencionado na promessa de Jesus sobre a eternidade.

Portanto, medite sobre o porvir ou esperançar, para que você possa ter energias e continuar firme e confiante.  Essa atitude levou muitos cristãos a terem esperança, mesmo, mediante a morte iminente.  


Pe. Marcelo José 

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Exorcismo na Igreja Católica

O Exorcismo na Igreja Católica 


O exorcismo é uma prática usada pela Igreja Católica para proteger uma pessoa ou objeto contra a ação do maligno e subtrair ao seu domínio (EF 6, 10-20). Há dois tipos de exorcismo: menores que são as orações feitas por todo e qualquer batizado da Igreja (Mc 16) e os maiores realizados pelo padre exorcista escolhido pelo bispo da diocese local. 


O exorcismo é considerado um sacramental (sinal da graça de Deus) e é realizado em nome de Jesus Cristo, o grande autor do exorcismo (Devemos fazer sempre em nome dele). 



  1. Elementos do Exorcismo


- História: A prática dos exorcismos foi iniciada na Igreja pelo próprio Jesus Cristo, que deu aos apóstolos o poder de expulsar espíritos imundos e sendo continuada pelos apóstolos e discípulos (Mt 10; Atos 16,16). 

- Classificação: Os exorcismos podem ser públicos ou privados, solenes ou simples.  Exorcismos solenes são realizados em casos de possessão ou obsessão demoníaca (Ritual do Exorcismo).  

- Rituais: O Ritual de Exorcismos da Igreja Católica descreve os procedimentos a serem seguidos, incluindo orações, imposição de mãos e uso de água benta.  O rito deve ter autorização do bispo local, para ser validado. 

- Prudência: Antes de realizar um exorcismo, o exorcista deve ter certeza moral de que a pessoa está realmente possuída, excluindo outras causas naturais, como doenças mentais ou psicopatológicos ou psicossomáticos (um bom discernimento).


Portanto, há uma grande importância do exorcismo na vida da Igreja, pois é uma manifestação da fé e da autoridade da própria Igreja em combater o mal e proteger os fiéis. Porém alguns padres não dão tanta atenção na existência do mal no mundo e tendem numa visão mais racionalista da fé conforme nos aponta o ex-presidente dos exorcistas do Vaticano: padre Gabriele Amorth (Livro: Um exorcista conta-nos). 


As ações de influências demoníacas sobre uma pessoa, segundo a doutrina católica, podem ser classificadas em vários graus, cada um com características e intensidades diferentes. Aqui estão alguns dos principais graus de influência demoníaca conforme os exorcistas apresentam em seus livros (Amorth, Vella, Duarte, Rufos):


1. Tentação:

   - Descrição: É a forma mais comum de influência demoníaca, onde o demônio tenta seduzir a pessoa a cometer pecados (Mt 4: tentação de Jesus no deserto). 

   - Características: o mal age nos pensamentos através da imaginação e recordações da memória de algo pecaminoso que fizemos no passado: “Você gosta, faz de novo isso vai…”; “Faz, ninguém está vendo”; vem por meio de desejos ou sugestões negativas ou imorais (contra os 10 mandamentos de Deus e vícios capitais); mas sem perda de controle sobre as próprias ações.


2. Obsessão:

   - Descrição: Uma forma mais intensa de ataque onde o demônio provoca tormento mental.

   - Características: Pensamentos persistentes e perturbadores que podem levar ao desespero, angústia ou impulsos irracionais. Ex.: ideias suicidas, blasfêmia contra Deus, desejos sexuais exacerbados, rancores e ódios profundos contra alguém,... A pessoa ainda mantém controle sobre suas ações, mas sofre intensamente.


3. Vexação:

   - Descrição: Ataques físicos ou psicológicos mais intensos que interferem diretamente na vida da pessoa.

   - Características: Fenômenos inexplicáveis como dores físicas, problemas de saúde repentina, distúrbios emocionais intensos e até distorções de realidade.


4. Infestação:

   - Descrição: A influência do demônio sobre lugares, objetos ou animais.

   - Características: Atividade paranormal em uma casa ou objeto, ruídos inexplicáveis, movimentação de objetos, etc.


5. Possessão:

   - Descrição: O grau mais extremo onde o demônio assume controle total ou parcial do corpo da pessoa.

   - Características: Mudanças de personalidade, falar línguas desconhecidas, força sobre-humana, aversão a objetos sagrados, entre outros sinais.


6. Subjugação ou Dependência:

   - Descrição: Quando a pessoa voluntariamente se submete à influência demoníaca, por exemplo, através de pactos.

   - Características: Prática de rituais satânicos, busca por poderes ocultos, dedicação ao mal.


“O demônio é como um cão raivoso só pega quem chegar perto”. Santo Agostinho 


Portanto, esses graus refletem diferentes níveis de severidade e impacto na vida de uma pessoa ou até de uma família, desde tentações sutis até uma completa possessão.  Esses fatores para que possam ser bem discernidos têm que ter um olhar inter/multidisciplinar para que o sacerdote exorcista possa averiguar e poder dar o diagnóstico sobre o caso. 


Pe. Marcelo José 

Mestre em psicologia social e estuda sobre as questões da Mística Cristã 

nota. Imagem de são Miguel derrotando o dragão (metáfora do Império Romano com suas ideias anticristãs). 

Missão sacerdotal no tempo da pandemia do COVID 19

Sobre a missão sacerdotal neste tempo de pandemia


           A missão sacerdotal é a missão dada pelo próprio Jesus Cristo que disse: “Ide pelo mundo e anuncia a Boa Nova para todos os povos, batizando-os e consagrando-os ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo e ensinando-lhes a cumprir tudo que vos mandei” (Mt 28, 19-20).  

Neste tempo de pandemia que surgiu no final de 2019 (China), se torna tão necessária a ação sacerdotal de levar essa Boa Nova.  Vale a pena recordar as palavras do profeta Isaías:  “O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu.  Enviou-me para dar uma boa notícia aos que sofrem, para curar os corações desgarrados, para proclamar a anistia aos cativos e aos prisioneiros a liberdade, para proclamar o ano de graça do Senhor, o dia de desforra do nosso Deus; para consolar os aflitos, os afligidos de Sião” (Is 61, 1-2).    

          Essas palavras proféticas do profeta Isaías nos dão um norte em nossa ação sacerdotal, principalmente, para este tempo, em que a insegurança, o medo, o sofrimento e a terminalidade estão presentes no mundo.

         “Enviou-me para dar uma boa notícia aos que sofrem”: qualquer doença traz sofrimentos diversos para o ser humano.  A doença da alma é a pior de todas, pois nos afastamos da graça de Deus e com isso, acarreta o pecado, ou seja, “erramos o alvo”, “não atingimos o propósito”, que em grego é “hamartia”.   Aproveitar este momento, para fazer uma boa confissão, pegar a Palavra de Deus, rezar em família e com amigos pela internet, realizar obras caritativas aos que estão passando necessidades de uma boa palavra, de alimentos, de roupas, de uma assistência profissional.   “Estive com fome e me deste de comer, estive com sede e me deste de beber, estava nu e me vestistes, estava peregrino e me acolhestes,...” (Mt 25).  

Foram muitas confissões neste período, muitos atendimentos por telefone consolando os corações angustiados e aflitos.  Foram muitos atendimentos com os profissionais na área da saúde que estavam desesperados, com medo, angustiados com  pandemia.

“Padre, tudo bem? Por favor, um apelo mesmo! Coloque os profissionais de saúde e como o senhor e todos os brasileiros em suas orações (missas), pois já estamos vivendo um caos.  Estou trabalhando em um hospital com porta aberta de emergência no Rio de Janeiro e é simplesmente desesperador.  Padre, por favor desculpa incomodar, me ajuda, eu acho que me infectei, vou precisar ficar em quarentena. O pior é que tive contato com muita gente, inclusive meus pais que são do grupo de risco.   Nunca tive um desespero tão grande na minha vida.  Eu só estou falando com o senhor porque eu confio, porque você vai me entender e você não tem nada com isso.  Me desculpa atrapalhar...Por favor, reze por mim, pela minha família, pelos meus pacientes que eu possa mesmo sem intenção ter infectado.   Padre estou vendo pessoas morrerem e vamos ver muitas pessoas morrerem.   Estamos no caos.  Eu não posso ver minha família morrer por isso, padre, eu não vou aguentar.  Eu nunca passei por isso, sempre tive equilíbrio, pois trabalho na hematologia, vejo a morte de perto e nunca me senti assim.”    

Depois eu conversei com ela ao telefone lhe acalmando a alma: “Filha, você já passou por muitas coisas na área da hematologia: dores, sofrimentos e terminalidades.  Agora, para este momento, você vai ampliar o seu conhecimento, sua capacidade e levar forças, para as pessoas vão precisar muito de ti.”   Na semana seguinte, falo com ela mais uma vez, e ela me dá um ótimo feedback da conversa: “Padre, aquela conversa contigo foi essencial, pois agora estou bem melhor. Saí de casa e vim morar com a minha irmã justamente por meus pais e avós serem do grupo de risco extremo.  A minha cabeça ficou melhor com isso.  Muito obrigada mais uma vez pelo apoio, pois me ajudou muito! (CONVERSAS DE MARÇO DE 2020).  

Possamos favorecer com as pessoas uma boa escuta e conversa e formar grupos de apoio, para poder contornar as situações que estamos vivendo neste momento tão critico da humanidade.  

Uma das doenças da psiqué é quando tiramos a base de que não sou amado, não tenho valor e amparo.  São três distorções, em que, a pessoa pode trazer uma certeza consigo (irracional ou inconsciente) de que é incompetente, fracassada, rejeitada, inaceitável, sentindo-se um lixo ou um ser perigoso/maligno e não tendo valor nenhum,...  Estes tipos de pensamento podem levar o ser humano ao sofrimento psíquico ou diversos tipos de transtornos: ansiedade, depressão, fobias, uso de drogas, etc.   Essas crenças nucleares distorcidas (TCC) podem ser em relação a si mesmo, aos outros (querem me prejudicar, as pessoas são superiores a mim, são mais amadas e úteis) e ao mundo (o mundo é injusto, imprevisível, incontrolável).  Hoje com a pandemia, podemos estar alimentando em nosso coração de que não há esperança, está tudo incontrolável, vamos morrer todos.   Possamos fazer a nossa parte e assim, estabilizarmos este momento crítico que estamos vivendo.  “Tudo passa, só Deus basta” (Santa Tereza de Ávila).


Conversava com muitas senhoras angustiadas e algumas tinham ficado viúvas naquele ano.  Elas falavam das suas solidões e ainda mais com a pandemia, acentuou as suas angústias.  Fazia orações com ela e isso confortava um pouco suas almas.   

Realizei alguns velórios on line (uma coisa que nunca tinha pensando em minha vida realizar), para confortar um pouco as angustias dos familiares com o seu ente querido.  

Recentemente, fui atender um amigo que tentou suicídio.  Ele me deixou uma mensagem que tomou alguns remédios e fui logo socorrê-lo em sua casa e indo ao hospital.   O médico por sua vez, estava na dúvida se o internava ou não.    Falei sobre os sintomas e sinais psiquiátricos que ele estava manifestando: alucinações (experiências sensoriais reais baseadas em coisas irreais, ou seja, inexistentes) auditivas e visuais  e delírios (interpretação errada da realidade) de perseguição.  Juntos resolvemos a melhor maneira de ação, para dar melhor segurança a sua saúde, pois ele morava sozinho e na casa dos seus pais não dava, porque seu pai tinha problemas psiquiátricos.   A resolução foi interna-lo numa clínica.  E fui eu tarde da noite, para interna-lo.   Foi um dia bem desgastante, mas que, revigorou em minha alma e a minha vocação sacerdotal.   


Em relação ao suicídio, há várias questões que podem afetar a psiqué do ser humano e aumentar os fatores de risco em em relação para este problema: violência, transtornos por consumo de álcool, abuso de substância e sentimentos de perda, desespero, etc.   A pessoa em si não quer tirar a vida, mas quer amenizar a dor que é contínua.  Com isso, possamos estar atentos aos outros e perceba alguns sinais:

  1. Questões verbais: “não aguento mais essa vida”, “a vida não tem sentido”, “já não estarei aqui quando você voltar na segunda-feira”.

  2. Mudanças de comportamento: pessoas ativas se retraem e se colocam em perigo constante; 

  3. Sinais de depressão: mudanças de hábitos alimentares, perda de apetite, sonolência, ansiedade, inquietação, sentimento de desespero e culpa, não desfrutar da vida, etc.

  4. Abuso de substâncias ativas como alcoolismo e drogas;

  5. Dar de presentes objetos de sua propriedade e depois realiza o ato.

  6. Problemas na escola, no trabalho e na família gerando baixo rendimento;

  7. Tomar cuidado com a tranquilidade inesperada e repentina (ficar mais atento);

  8. Outros fatores como queixas de dores, hiperatividade, promiscuidade sexual, dor ou sofrimento prolongados depois de perdas ou mortes de entes queridos ou animais de estimação;

Sempre possamos estar atentos  e é muito prudente não menosprezar tais sintomas no auxílio a pessoa com ideias suicidas.  Possamos ser bons samaritanos, pois juntos somos mais e assim, realizarmos uma rede de solidariedade (igrejas, instituições, ONGs) na prevenção ao suicídio.     

          A doença social de que não consigo me socializar mais com os outros, principalmente com os meus em casa, neste período crítico.   A pandemia mostra que eu não tenho uma interação com minha família, de que eu vivia com superficialidade.   É a tal chamada “Modernidade líquida”: uma crítica do sociólogo Baumen que mostra uma sociedade imediatista, leve, ou seja, sem muito compromisso (superficial).    Com este tipo de filosofia de vida, os relacionamentos se tornam mais superficiais e acabam prejudicando o nosso desenvolvimento biopsicossocial e espiritual.  Possamos aproveitar este momento e ir ao encontro dos nossos e pedir perdão e assim, voltarmos a valorizar a nossa família.  “Ohana quer dizer família e família quer dizer aquela que nunca nos esquece ou nos abandona” (Lilo & Stitch) ou dom da graça de Deus em havaiano.  

Atendi alguns casais e atendo até hoje com problemas conjugais.  A pandemia com o confinamento mostrou, para nós a nossa fragilidade em nossos convívios, pois se apresentam superficiais, sem diálogo.  Mas tudo pode ser contornado com uma boa comunicação e assertividade (virtude que nos ensina a não julgar, não ser agressivo e não se omitir: “Eu não gostei do que você  me falou, pois tirou a minha paz”).

As doenças do físico estão presentes e que podem nos causar desequilíbrio, seja no próprio corpo ou na psiqué humana.    Com a COVID-19, vários estudos são relacionados como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), os pesquisadores apontam os problemas físicos como o acometimento mental de pacientes infectados, perda de memória, alterações no sono e estresse pós-traumático, depressão e ansiedade, meses após a recuperação do quadro viral.   Além do quadro do risco para a saúde mental em relação ao distanciamento social.   Possamos criar uma rede de apoio multidisciplinar, para ajudar aos que estão passando por alguma necessidade.  

Mediante ao novo surto da COVID-19, o hospital reforçou a segurança, mas não proibiu a entrada dos familiares e a visita religiosa.   Segundo, o doutor Lucas (cardiologista) é fundamental a entrada dos familiares e da assistência religiosa, para o paciente que se encontra enfermo.  Ele lembrou também que na faculdade de medicina não teve nenhuma matéria falando a respeito da importância psicológica e espiritual e que aprendeu depois de formado.


Os cursos de medicina, antigamente, eram estruturados,  a partir de uma visão  e paradigma físico mecanicista.  As matérias tinham a probabilidade de 95% no aspecto fisiológico, ou seja, anatomia, fisiologia, farmacologia, genética e dentre outras (Mezzono, 2003). Expande-se agora, um olhar integral: biopsicossocial e espiritual que favorece um lugar para exercer uma humanização hospitalar entre os profissionais na área da saúde (Costa, 2021). 


Percebi o seu aspecto humanitário ao se relacionar com cada um dos familiares e comigo no espaço de fora da área da coronariana, mesmo nesta pandemia.  E dentro da área coronariana ele desabafou comigo em relação diante de seus limites em lidar com a terminalidade.  


"A morte, em nossa cultura, ainda é vista como um fracasso pessoal ou da medicina, quando na verdade é apenas uma etapa, um evento na existência, que continuará em outras dimensões: cósmica, eterna e divina" (Mezzono, 2003).  

Duas preocupações, no âmbito da Saúde, que podem ocorrer e dificultar a compreensão de lidar com as questões tanatológicas: 

  1. a obstinação terapêutica (distanásia) que quer a todo custo salvar as vidas, mas sem poder, e com isso, prejudicar a qualidade de vida do paciente; 

  2. a abstinação terapêutica, onde observa-se a dificuldade do profissional em não saber lidar com a terminalidade e com isso, se afasta dos pacientes de maneira friamente.   


Os currículos de medicina procuram ensinar a defender a vida, assegurando a saúde - algo que é primordial - mas devem ensinar a lidar com a morte, pois é uma realidade presente em nossa vida (Mezzono, 2003).


"Apesar dos profissionais demonstrarem grande empenho na mobilização dos seus recursos pessoais, há também os efeitos psicológicos de lidar diariamente com a dor, o sofrimento e a morte.  Isso demonstra a necessidade de preparação, suporte e acompanhamento psicológico do profissional da saúde que também precisa de cuidado.  É cuidar de quem cuida, para que o hospital como microssistema de tantos integrantes possa proporcionar um ambiente saudável, de desenvolvimento de processos proximais para todos os envolvidos.  Lidar com a dor do outro envolve lidar com a própria dor e por isso, os profissionais precisam ter espaços de diálogo sobre essas questões" (Costa, 2020).


Escrevi esta carta para o médico e a instituição, para que possam multiplicar mais ações humanitárias dentro dos hospitais e assim, proporcional o equilíbrio em lidar com os aspectos saúde-doença anfemeramente e ter uma noção melhor do nosso desenvolvimento e papel na área da saúde e na sociedade.   


As doenças da desigualdade social que geram a morte e causam vários fatores de vulnerabilidade no ser humano.   Um exemplo bem claro que estamos assistindo, nesta pandemia, é a falta do investimento na saúde e com isso, gera no que chamamos na bioética de mistanásia, ou seja, a negligência do governo ou instituições ou pessoal no cuidado ao paciente que acaba morrendo nos corredores dos hospitais (Ricci, 2017).  Há também outras questões de mistanásia como violência, drogas, corrupção que possam ser discutidas e que afetam profundamente a dignidade humana.   Um padre amigo meu me falava que a droga e a prática do aborto são uma pandemia, em que, as pessoas têm que tomar consciência deste mal no mundo.   

Contudo, a missão de ser padre é seguir os ensinamentos de Jesus em seu amor e principalmente, mostrar sua face misericordiosa.  Faço isso frequentemente nas orações pessoais ou nas ações em missão que realizo nos hospitais, asilos, creches, presídios, ruas, favelas.  Jesus quando veio ao mundo quis libertar o homem por inteiro através de sua Palavra e ações.   Ele curou o leproso e ao curar suas chagas físicas Jesus o cura de suas questões emocionais e o reintegra na sociedade e religião.  De fato, Jesus realizou um olhar bioecológico do desenvolvimento humano: “Eu vim para que todos tenham e vida em abundância” (Jo 10, 10).  E é claro, se não for concretizado aqui será concretizado em plenitude no Reino dos Céus, pois o nosso esperançar vai muito mais além da cura física ou emocional. 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

Bíblia do Peregrino.  (2011).  São Paulo: Paulus. 

Costa, M. J. M. C. (2020).  Resiliência Profissional em equipes de saúde que cuidam de pacientes com doenças oncológicas em contexto hospitalar.  Dissertação de Mestrado na Universidade Salgado de Oliveira – Niterói. 

Mezzono, A (2003). Fundamentos da humanização hospitalar: uma visão multiprofissional.  São Paulo: Edições Loyola.

Ricci, A. L.  (2017).   Morte Social: mistanásia e bioética.  São Paulo: Paulus.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Filme: todo tempo que temos (2024)

*Filme: Todo tempo que temos (2024).*
 
É uma história de romance, onde o casal, Amult (Pugh) e Tobias (Garfield), se conhece num atropelamento.  Surge a partir daí, um grande amor.  Alguns anos depois, um deles tem um câncer que chega atropelando a vida deles, mas que conseguem superar por meio do bom humor manifestando processos resilientes00 mesmo com as adversidades encontradas. 

O filme apresenta uma narrativa profunda, divertida e bem cativante entre o casal (os dois atores trabalham muito bem) e ainda, explora temáticas presentes em nosso cotidiano como: família, redenção, perdão, complexidade dos relacionamentos humanos e ressignificados. 

Pontos importantes:  lidar com o câncer em família e com os processos resilientes (Costa et al., 2024);
Assuntos em comum da área da psicologia e oncologia (Costa, 2023);

Pe. Marcelo José 
Mestre em Psicologia Social e do Desenvolvimento humano (Resiliência)

Psico-oncologista

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Santa Teresinha em quatro tons: Vida, Espiritualidade, Arte e Psicologia.

Santa teresinha:

Em quatro tons



Prólogo 


Mediante o 150° aniversário de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face (1873 - 1897), resolvi escrever quatro pontos importantes ligados a Santinha das Rosas: um breve comentário sobre sua VIDA; o caminho de sua ESPIRITUALIDADE com a pequena via de santidade; a apresentação de algumas ARTES, em que ela realizou, para evangelizar melhor os corações em Deus; e por fim, a PSICOLOGIA teresiana baseada em sua história como caminho terapêutico. 

Aproveite bem essa rosa dos ventos dessa pequena doutora da Igreja que nos direciona para Jesus, caminho, verdade e vida (Jo 14).


Homenagem especial a Dom Carlos Alberto Navarro que sempre nos falou do seu “anjo da guarda” em sua vida: santa Teresinha do Menino Jesus, pois por meio dela, ele encontrou a sua vocação sacerdotal através de sua auto bibliografia deixando o exército e indo para o seminário.  


Figura 1: Rosa dos Ventos: representando os 4 tons de Santa Teresinha que nos ajudam no amor a Jesus Cristo. 

Nota. A rosa dos ventos é uma bússola. É a direção que Santa Teresinha vai lhe mostrar como caminho de santidade em Deus: V (vida de santa Teresinha), E (Espiritualidade), A (Artes) e P (psicologia). 



  1. Vida

Santa Teresinha nasceu na França no dia 02 de janeiro de 1873 e acabou falecendo no dia 30 de setembro de 1897.  Neste ano de 2023, ela completaria 150 anos de vida (Está velhinha hein Tetê!). 

Os pais de Santa Teresinha são: São Luís Martín e Santa Zélia Guerin. Eles se conheceram, pela primeira vez, em 1858 na ponte de São Leonardo de Alençon: realmente é um lugar romântico, onde os dois se apaixonaram um pelo outro.  Eles tiveram 9 filhos, mas 5 filhas sobreviveram: Paulina, Maria, Leônia, Celina e Teresinha. 

No seu livro História de uma alma, Santa Teresinha apresenta o seu percurso de vida, entrada e vicência  no Carmelo. 


 1.1 Confiança em Deus e intercessão pelos ateus.

Santa Teresinha apresenta uma belíssima confiança na misericórdia de Deus. Ela mesma foi provada o tempo todo (não foi isenta de lutas) e ainda mais, em seu último momento aqui na terra, por causa do ateísmo moderno que estava crescendo a cada dia.  Mas com o olhar de Ressignificação, ou seja: o olhar de misericórdia com os ateus, ela se sente “a irmã dos ateus” e intercede a cada dia por eles oferecendo a própria vida a cada dia. O belo testemunho foi do assassino que foi a forca e santa Teresinha pedia a Deus clemência por ele, para ter misericórdia de sua alma.  O papa Francisco, na carta apostólica “Só a confiança”, vai dizer “que santa Teresinha ensina as profundezas da misericórdia de Deus e de lá, retirou a luz da sua ilimitada esperança”. 


  1. Espiritualidade 

A pequena francesa em sua vida expressou muito amor a nosso Senhor Jesus Cristo e com isso, pode realizar a pequena via de espiritualidade. O que seria essa pequena via de Santidade? Seria perceber a Deus nas pequenas coisas do dia a dia e mesmo nas contrariedades encontrar a Deus.  “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom 8).  


No seminário são José em Niterói, recordo de um momento de minha formação com santa Teresinha, quando ia lavar muitos pratos na cozinha.  Eu olhava aquela pilha de pratos e já dava desânimo (logo após o almoço, imagine a cena?).  Com isso, me veio ao coração: “Cada prato é uma alma que sai do purgatório”.  Comecei a lavar com bastante ânimo e alegria: os pratos, copos e talheres e dizia: “Mais uma alma saindo do purgatório...” 

Realmente, a pequena via de santa Teresinha nós ajuda a ter um olhar que transcende, ter um olhar de sabedoria (colocar os olhos de Deus em nossos olhos). 



  1. Arte


A arte é algo da inteligência humana, para expressarmos o que sentimos ou realizamos de modo mais lúdico e reflexivo.  São 11 as artes da humanidade: música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, cinema, fotografia, gibi, game e design que contribuem para um melhor desenvolvimento do ser humano (Costa & Yunes, 2022). 


Ela utilizou várias artes para expressar o seu amor a Jesus: música, escultura, dança, teatro, poesia, literatura, fotografia (ela é uma das primeiras santas com registros de foto).  Vale a pena ver nas obras completas de santa Teresinha esses registros e veja, em especial, a peça teatral: o triunfo da humildade, onde ela expressa, tão bem, a ação do mal no mundo (estarmos atentos, vigiarmos mais na oração) e como a humildade triunfa sobre o mal como ela aponta o exemplo da pequenez da Virgem Maria na história da Salvação (Lc 1 - 2; Jo 2 e 19). 


  1. Psicologia 

A psicologia é a ciência da alma, da psique, da mente e do comportamento humano.  Existem mais de 500 linhas na área da psicologia humana e ainda, há também, combinações com outros saberes: psico-oncologia (câncer), psicopedagogia, psicologia do esporte, psicologia hospitalar, psicologia social e dentre outras áreas. 

No livro de psicologia de santa Teresinha, mostra o seu desenvolvimento humano como modelo de autoestima, acolhida ativa do dom da saúde, professora na arte de pensar, reconhecer a liberdade emocional, manifesta um comportamento excelente, têm boas relações humanas (proporcionar inteligência interpessoal), cultiva sua missão pessoal: um bom desenvolvimento humano e ainda, forja a própria história. 




4.1 Modelo de autoestima 


A autoestima é a capacidade da pessoa de amar a si mesmo. Jesus nos lembra dos dois mandamentos principais: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (Mc 12, 28-31), ou seja, não podemos deixar de nos amar também. 

Possamos imaginar uma escala da autoestima de 0 a 100: 

25 - 75: mostra-nos a autoestima mediante o respeito, cuidado e promoção do próprio eu: são os limites dentro da racionalidade; 

00 - 25 (extremo inferior): expressa o abandono e a falta de cuidado de si mesmo, ou seja, a falta de diálogo interior e amor por si mesmo e com isso, uma relação negativa com o próprio eu (de onde vem as distorções cognitivas: desamor, desamparo e desvalor). 

Nível 00 corresponde à depressão que pode conduzir o sujeito ao extremo de tirar a própria vida (o suicídio). 

Acima de 75, podemos encontrar o amor próprio (negativo), onde o egoísmo, a vaidade, a vanglória, a soberba, a prepotência e a agressividade tomam conta da pessoa. 


4.2 Ressignificação: dar um novo significado para algo ruim


A Ressignificação é uma ferramenta poderosa, para o crescimento pessoal e emocional e com isso, podemos usar a cada dia, principalmente, nos momentos difíceis que enfrentamos anfemeramente. A santa das Rosa no período da doença fixou um bom pensamento quando viu um alfinete no chão e disse para si mesmo: “Se eu pegar esse alfinete no chão salvarei uma alma do purgatório…” E assim, ela dava um novo significado para a dor em salvação.


Portanto, possamos aprender com essa doutora tão esperta o caminho de santificação através de pequenas ações que tomam uma proporção gigantesca de graça em nossa vida em Deus. 


Pe. Marcelo José 

Devoto de Tetê 

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A Igreja aponta os Frutos de Medjgorje na Bósnia

*Medjgorje - Bósnia*
Frutos de uma bela evangelização 


*Igreja Católica Romana*
O Dicastério para a doutrina da Fé realizou o aval a respeito sobre os frutos espirituais que acontecem em Medjgorje - Bósnia, por meio da devoção à Rainha da Paz, mãe de Jesus. 
O documento aponta diversas experiências de conversão, de retorno à confissão e comunhão.  Além disso, há vários chamados à vida sacerdotal, religiosa e matrimonial; reconciliações familiares e até curas. 

Realmente, são muitos os frutos em Medjgorje (Bósnia), onde as pessoas expressam com alegria como a capital da espiritualidade católica.  
Quando você chega na Igreja de são Tiago, você vai encontrar as pessoas:

1) Rezando
2) Participando das missas
3) confessando (vários padres confessando em diversas línguas).
4) Rezando o terço
5) Fazendo meditações 
6) Louvando a Deus
7) Compartilhando o dom da fé 
8) Ouvindo pregações e testemunhos
9) Acolhendo novas amizades na fé
10) Incrivel unicidade da Igreja
11) Os jovens utilizam a arte e fé para evangelização.
12) Um lugar onde sente Deus com profundidade. 
13) Percebe a grande intercessão da Mãe de Jesus para o mundo: sempre nos apontando Jesus (Jo 2: "Fazei tudo o que Ele vos disser"). 

Em 2018 - 2019, pude participar do encontro dos jovens (sempre início de agosto), onde reúne mais de 50.000 jovens de todo mundo (80 nacionalidades presentes) e  pude ver esses testemunhos maravilhosos de perto que traz muita alegria ao coração e renova a nossa vida e vocação (a Igreja de Jesus está viva e continua a missão do Mestre). 

Graças a Deus a Igreja tem acompanhado de perto Medjgorje e percebe os belos frutos de fé das pessoas que passaram por lá. 

Realmente, não tem nada de novo, mas é a conscientização de nossa vida cristã no mundo: "Ser sal da terra e luz do mundo".  

Deus tem pressa!

Pe. Marcelo José
Arquidiocese de Niterói

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

A dor nos liberta do ser amador e assim, ser vencedor.

A DOR  LIBERTA DO SER AMADOR PARA ASSIM, SER VENCEDOR. 

  1. A dor: fortalece ou paralisa?

Diante das dificuldades da vida, sofremos com as dores que marcam o nosso ser e seja ela: física, moral, psíquica, intelectual. Ela nos marca de fato, porém não é algo que determina o que somos, pois somos algo que transcende essas dores.

Quando sentimos dores é algo que aponta para a nossa capacidade de superação, de ressignificar o nosso ser mediantes as adversidades da vida e com isso, podemos superar, lutar, crescer e perceber os mecanismos de proteção que nos auxiliam em nosso desenvolvimento humano (Costa, Yunes & Achkar, 2020). 


Na sagrada Escritura, vemos a passagem do oleiro com a argila que sofre pressão, para ser moldada, mas que não vai ser quebrada. A dor é um instrumento de transformação que faz amadurecer assim como a argila vai amadurecendo com o oleiro.  Se estou com uma dor ofereça a Deus. Coloque para ele, mas não se deixe vencer por ela, pois você está com Deus e é capaz de superar. Tenha paciência!


“O autoconhecimento é o melhor exorcismo”. 

São Francisco de Assis


O caminho do autoconhecimento é muito importante, para esse bom desenvolvimento. Basta lembrar das recomendações do grande sábio Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo”. Conhecer a si mesmo e a nossa própria história de vida. Você lembra das situações que passou? As cicatrizes da vida? Foram histórias que você enfrentou ou está enfrentando, mas são lições de vida com profundidade. Desafios superados com o selo de qualidade de resiliência que nos apontam para novos horizontes. A dor, portanto, não é um título de nosso livro (mas este livro sim, para destacar a superação da dor), mas um capítulo que passou em nossa história (coloque isso para Deus sempre em sua oração diária). 


Creio que o sofrimento presente não tem proporção alguma para glória futura dos filhos de Deus” (Rom 8).


A dor é passageira e é preciso abandoná-la a cada dia em Deus:  

“Eu entrego, Jesus, esta dor que me consome todo dia. Eu te peço pelo teu sangue derramado na Cruz. Venha Jesus transformar essa dor em oração: eu te entrego, Senhor aos pés de sua santa Cruz".

A dor e o sofrimento passam e vão retirando essa força desconhecida que me gerava muito medo.  Pois parece que aqueles vivências vão retornar a cada momento quando me vem na mente…Não vão voltar! Já passou o pior e agora uma nova página virá da minha vida com boas histórias. Com isso, vou redefinindo a minha história com mais maturidade e calma (Viktor Frankl: logoterapia). 


Quando vier a dor novamente em nosso ser apenas diga em seu interior: “De novo, você por aqui! Sei que você vai tomar um café e vai embora. Seja uma boa dona Florinda (Chaves), para oferecer um café e lembre-se: “é apenas uma visita, pois vai embora”.  Cada experiência é única na dor e com isso, aproveite os bons frutos, para crescer, amadurecer e assim, seguir adiante a cada dia. 


CUIDADO COM AS DISTORÇÕES


Recordei a história de um menino de 10 anos que estava com muita dor abdominal. Ele dizia para sua mãe que estava morrendo. A mãe por sua vez ficou angustiada pela fala do filho. No entanto,  falei com ele que não estava morrendo, mas sim sentindo dores e para não ficar interpretando errado as coisas, mas apenas apresenta os fatos como eles acontecem: “Mãe, eu estou com muita dor que nunca senti na vida”.
Às vezes, somos como esse menino que interpreta mal as situações e que na vida não tem jeito, não tem uma saída (pensamentos distorcidos que nos atrapalham de ver realidade. A ajuda de um bom profissional nos auxilia muito nessas situações).

Portanto, a dor é um aspecto da vida, mas não é a vida em si. Ela pode ser superada na graça de Deus ou por meios da ciência ou até um simples passeio no campo que nos faz ver a vida por outros horizontes. A dor, no entanto, não nos define o que somos, mas sim, a nossa resposta em relação a ela que nos faz crescer e moldar anfemeramente o nosso ser. 

Pe. Marcelo José M. da Costa

Mestre em Psicologia Social